História do Cão de Água Português
O Cão de Água Português, é uma raça bastante antiga, em tempos perto da extinção, apenas para ressurgir e tornar-se na raça de cães portuguesa com maior projecção nos Estados Unidos da América, onde existem vários criadores.
O registo mais antigo desta raça data de 1828. Trata-se de uma gravura sobre o desembarque de El-Rei Senhor D. Miguel na Praia de Belém, onde um cão idêntico ao Cão de Água Português nada em direcção aos barcos. Contudo, pensa-se que a raça é bastante mais antiga. Aponta-se para o período entre os séculos V e VII como a data de introdução da raça em Portugal. De facto, Manuel Fernandes Marques referia no seu livro “O Cão d’Água”, de 1938, que esta raça era já conhecida dos antigos romanos, que o apelidaram de “Cão leão” devido ao corte do pêlo.
O Cão de Água Português foi desde logo adoptado pelos pescadores que o consideravam como um companheiro, com os mesmos deveres e regalias de qualquer outro pescador. Excelente nadador e mergulhador, este cão era utilizado para recuperar o peixe que se soltava dos anzóis e outros objectos na água. Diz a lenda que o cão chegou mesmo a salvar pescadores (na altura, era frequente os pescadores não saberem nadar).
O Cão de Água Português transportava também mensagens de barco para barco e nas horas vagas dos pescadores era responsável pela guarda da embarcação. Como recompensa, os pescadores dividiam com ele o peixe e o dinheiro que faziam com o comércio, que ficava a cargo do homem eleito para cuidar do animal. Devido a esta repartição igualitária, os pescadores mais velhos e afastados do mar alugavam por vezes os seus cães, de forma a conseguirem um rendimento extra.
À semelhança da dinâmica que o cão mantém com o caçador, também o Cão de Água Português era indispensável nas embarcações de pesca. E assim foi até que a revolução industrial chegou a Portugal e mais particularmente à frota pesqueira do país, no início do século XX.
A mecanização veio não só substituir alguns homens, mas também o cão. Os rádios passaram a assegurar a comunicação entre os barcos e os guinchos faziam com que a rede fosse fácil de puxar. Gradualmente, em vez de dois cães olhando um para bombordo e outro estibordo, os barcos começaram a modernizar-se e a abdicar dos animais. Perdendo cada vez mais território, o Cão de Água Português, que originalmente estava presente em toda a costa portuguesa, refugiou-se no Algarve, onde a tradição piscatória se manteve.
Paralelamente a estas mudanças, o Cão de Água Português estreou-se também nas exposições, por volta dos anos 30. Apesar de os números da raça estarem a diminuir, o seu valor para os pescadores não foi alterado. Foi o interesse pela raça de Vasco Bensaúde, dono de uma frota pesqueira, que garantiu a sobrevivência da raça. Responsável pelo estalão e pela formação do clube do Cão de Água Português no país, Vasco Bensaúde, reuniu vários exemplares espalhados pelo país e iniciou um programa de criação com esses cães.
Na década de 60 do século XX, o número de cães de Água Português era bastante reduzido. Estimavam-se cerca de 50 exemplares. Em 1966, foi criado o estalão da raça, mas a publicação do mesmo não trouxe popularidade ao animal. Em 1981, a raça foi reconhecida pelo American Kennel Club, clube de canicultura dos Estados Unidos. No mesmo ano, o Guinness Book os Records referia-se ao Cão de Água Português como a raça mais rara do mundo. A verdade é que foi num pulo que se tornou a raça de cães portuguesa mais popular naquele país.
Os norte-americanos tinham entrado em contacto com o Cão de Água Português já em 1958, tendo sido alguns anos depois, em 1972, formado o clube norte-americano da raça. O reconhecimento da raça e a divulgação dada pelo livro dos recordes veio impulsionar de forma significativa o crescimento da mesma no país.
Hoje em dia o Cão de Água Português é ainda encontrado em barcos de pescadores. Outras das suas funções são guarda e companhia.